terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Neo - Realismo e a sociedade...


Vanessa Cardozo e Fábio de Deus

Numa Europa que agonizava entre as mazelas do pós-guerra surge através da arte um movimento que clamava por clemência, com influências realistas e marxistas o neo-realismo serve como forma máxima de expressão artística (literatura, pintura e etc.) alcançando a sua redenção através do cinema.

A denominação da “sétima arte” como forma de redenção é fruto do caráter impactante e ao mesmo tempo realista da película, apesar de acoplar pitadas de ficção, o personagem se humaniza ao decorrer da trama, para enfim, culminar, expressar, materializar o sentimento universal dilacerado. Essa característica “humana” o aproxima em certas cenas a uma espécie de documentário.

O marco inicial do movimento cinematográfico acontece na primeira metade da década de 40 (entre 1945 e 1946). Graças ao lançamento do nomeado diretor Frederico Fellini, “Romma Città Aperta“, rodado logo após a libertação de Roma.

A “paternidade do termo” (Neo – Realismo) gira em torno de duas possibilidades: à primeira diz que seria de Mario Serandrei quando chamou de” Neo – Realístico” o filme Ossessione , no qual havia sido montador ; e a outra possibilidade atribui o termo a Umberto Barbaro , que por sua vez utilizou o termo para resenhar o filme Quai des Brumes.

A originalidade em sua ingenuidade trouxe a imagem em movimento o uso de crianças, talvez como uma prece no sentido mais puro de sensibilizar o expectador através de um olhar infantil, desnudo à realidade tal qual ela era. Ou seja, sem a censura auto – imposta, sem amenizá-la através de cenários panorâmicos.

O cinema, como instrumento de mobilização retratava paisagens naturais, atores locais, velhinhos, pessoas humildes, trabalhadores e miseráveis. Opondo-se a estética excessivamente glamorosa do período fascista.

Essa tendência traz a tona à ideologia esquerdista, num Mundo bipolar (URSS x EUA) evidenciando uma Itália transtornada pela superficialidade da cultura em massa, talvez levados por um acesso de otimização dos cineastas em acreditar que expondo as atrocidades daquela época, resolveriam todos os problemas correspondentes. Porém, é inegável, a penetração, que as esquerdas críticas (desalinhas de Moscou), tiveram entre os trabalhadores Italianos, no pós-guerra.

Adentrando a faceta industrializada da cinematografia, compreendemos que, em geral, o realizador se submetesse a soberania do modo de produção capitalista, podendo perceber ou não o seu papel de doutrinadores (melhor: agentes de doutrinamento) não combatendo o sistema estrutural da indústria em si, tornando-se, portanto adjentes coadjuvantes desse repertório, mas em compensação quando o cineasta identifica o papel a qual se submete e decide “nadar contra a correnteza”, sendo desse modo, inteiramente consciente sobre o seu potencial de alcance através da exposição pública de suas obras . Este é, artista e comunicador, e o produto audiovisual é tanto sua mídia como seu suporte artístico. Analogamente, o cineasta e o designer gráfico são ambos. Em suma comunicadores no sentido mais completo que essa palavra possa ter, convergindo nos fins e divergindo nos meios.

A submissão conservadora ( citada anteriormente) explica o retorno ao melodrama e ao estrelismo industrial que colocam o movimento em “xeque”. A utilização de uma estética cultural, que no final das contas, serviria de manutenção do status quo, decepcionaria as camadas mais engajadas e abriria alas à submissão do Neo – Realismo a Indústria Cinematográfica.

Como meio de persuasão, o cinema, foi logo percebido por vários mobilizadores( força política). Bastaria citar os Soviéticos x Nazistas, por exemplo. Fizeram com os filmes como meio de corroborar essa afirmação. É incerto, portanto, prever até que ponto esse potencial ideológico se manteve, em outras palavras, se reduziu ou ampliou, após a introdução da televisão como meio de comunicação em massa por volta da década de 50.

Importante compreender acima de qualquer coisa a profundidade desse movimento não somente pelo âmbito social, mas pelo parâmetro estético e sobre tal fato a lógica ( ou ilógica) visionária sugere um conteúdo dispersivo , elíptico, errante ou oscilante , operando por blocos , com ligações deliberadamente fracas e acontecimentos flutuantes. O real ganha conteúdo e se torna “visado” quebrando todas as barreiras da “reprodução”. Em outras palavras o real é decifrado; por isso o realismo inventava, brincava com a ambigüidade. Construindo um novo tipo de imagem denominada: imagem- fato, de formal, material, mental e conteúdo, em outras palavras encontros fragmentados, efêmeros, intensos e interrompidos.

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